Arquivo do mês: dezembro 2011

Táticas de despejo

Remoção Forçada na Favela do Moinho

Ontem, moradores da Favela do Moinho, localizada na Barra Funda, divulgaram uma carta aberta, em que contam uma história que nós, e tantas pessoas que vivem nas periferias, conhecemos muito bem. Há anos os moradores do Moinho resistem ao despejo e às intimidações, e como já virou costume nessas situações (por exemplo, lembremos aqui o caso da favela Diogo Pires, no Jaguaré, ou aqui e aqui o caso da Favela do Real Parque, no Morumbi), um incêndio dificulta ainda mais a situação das famílias, e serve de desculpa para removê-las e impedir a reocupação da área. Nesse caso não sabemos detalhes, mas em vários outros os incêndios ocorrem na mesma época em que são contratadas grandes empreiteiras para realizar obras nessas áreas (obras que exigem a remoção dos moradores); além disso, vários desses incêndios são flagrantemente criminosos, há uma grande demora na chegada dos bombeiros, e não há qualquer investigação sobre suas verdadeiras causas. Portanto, um jeito muito eficiente para destruir comunidades pobres, que são verdadeiras “pedras no caminho” do capital imobiliário, e de seus comparsas e lacaios que povoam a burocracia estatal.

No caso do Moinho, uma vez mais a alternativa apresentada pela Prefeitura é o bolsa-aluguel de 300 reais, mas, na carta, os moradores do Moinho deixam claro que não vão engolir isso como se fosse a “solução” para suas demandas por moradia. 

Do último Sarau de 2011, para o ano de 2012

Lutas, Lutas e Poesia 

No último sarau do Recanto de 2011, rolou Piva, rolou Trindade, rolou Tigone e Renan, rolou Dani e Elvio, violão e maracatu, e os bboys Xis e Nonato. Rolaram muitas coisas boas, e o ano que vem já está rolando nas ideias das pessoas que curtem o sarau e as lutas: rolou uma prosa bem produtiva antes do sarau, com vontade de ampliar as ações coletivas de cultura engajada no extremo sul.  

Como disse o companheiro Renan, neste ano que chega: 

Dos governantes e canditatos, podem esperar mais do mesmo,
Da internet: previsões devastadoras, 
Da polícia: ações devastadoras,
 
Agora do povo: Lutas, Lutas e poesia! Sempre!

Sarau do Recanto

Justiça é pra poucos

Querem acabar com a defensoria pública

Pense nas quebradas de São Paulo. Agora, pense na quantidade de histórias de notificações de despejos, autos de interdição de casas em área de risco, de tentativas de regularização fundiária, usucapião; ou a quantidade de gente nas comunidades que tem familiares presos, que necessitam fazer requerimentos, petições, participar de audiências, julgamentos e outras coisas difíceis de entender. Ou de histórias de busca por justiça de inúmeros casos de vítimas da PM. Ou ainda de casos de violações e negligências na educação, na saúde, e por aí vai.

Com estes poucos exemplos dá para perceber a imensa demanda por atendimento jurídico popular e sem custos. Apesar da falta de estrutura, de pessoal, e de lidar com o mundo das leis, burocrático, conservador, opressor, a Defensoria Pública é um lugar em que podemos encontrar atendimento jurídico, e advogad@s comprometid@s.

Nesse mundo de pernas pro ar, não surpreende que agora, de um jeito disfarçado – com uma lei que está em votação na Assembléia Legislativa – , queiram acabar com a Defensoria Pública, retirando sua capacidade de escolher como usar seus (poucos) recursos, e sucateando seus serviços. Como se o sistema jurídico não fosse suficientemente elitista e desigual, e como se a lei já não servisse como arma contra a população pobre…

Imagens do último Sarau

O Hip Hop falando mais alto

As mídias e o que elas fazem com o futebol é mesmo uma coisa muito zuada. Um esporte lindo, uma paixão acaba se tornando um instrumento de alienação e uma mercadoria. Contra tudo isso e a favor da união, poder popular e convivência realizamos, no SARAU, a transmissão da final do campeonato brasileiro, em meio à música, break dance, idéias, etc., muitos fogos e gritaria. 

ArteRima cantou, CFL cantou, Xemalami somou, Renato Nonato recitou; rolou basket no meio da rua e se estendeu até altas horas! O Lucélia  viveu um dia contrastante como a poesia do Renato, e se tiver que ser assim a união do povo por uma vivência digna, que seja CoNtRaStAnTe; mas que SeJa! E SeJa SeMpRe, enquanto não mudar. Domingo o time do povo tava fazendo rap na rua, tava recitando poesia na rua, tava dançando na rua e lutando para poder gritar “É campeão!!” todos os dias. 

Libertem Mumia Abu-Jamal

Libertem Mumia Abu-Jamal!!!

Mumia Abu-Jamal é um militante que fez parte d@s Panteras Negras, movimento revolucionário norte-americano que teve grande importância desde sua criação, em meados da década de 1960, e ao longo da década de 1970. Em 1981, ele foi preso acusado de matar um policial branco, e foi sentenciado à pena de morte. Desde então, há mais de trinta anos, portanto, ele se encontra no corredor da morte, apesar das diversas mobilizações que se espalharam pelo mundo, contra essa condenação.

Quando se fala no caso do Mumia (nome que é referência aos que lutavam contra o domínio inglês no Quênia), muitas vezes se fala de discriminação. O problema é que isso costuma esconder o principal:  Mumia e @s Panteras Negras entendiam a questão do racismo como parte da dinâmica de opressão e de exploração que é a essência do sistema capitalista. El@s não lutavam por uma liberdade e uma igualdade falsas, por uma tolerância hipócrita em relação às diferenças dos tons de pele. El@s não queriam ficar nas mesmas condições gozadas pelos brancos nessa sociedade – seja na de brancos opressores, seja na de brancos oprimidos -; não queriam ser escravos do capital sob  condições mais amenas: el@s queriam acabar com o capitalismo, e com toda forma de opressão e de discriminação.

Foi isso que tornou Mumia e @s demais Panteras tão perigosos. E foi esse tipo de ousadia que deveria ser punido de modo exemplar.

Ontem, a pena de Mumia Abu-Jamal foi trocada de pena capital para prisão perpétua, resultado de muitas batalhas. Não há motivo para comemoração, e sim para reafirmar o grito: libertem Mumia Abu-Jamal! E viva a luta negra revolucionária!

Casos de Meningite

Relatos sobre casos de meningite

Em nossa região, têm surgido notícias de pessoas que contraíram meningite, e mesmo de óbitos em função dessa doença. Houve, por exemplo, casos de meningite na Escola Municipal de Ensino Infantil (EMEI) Aristides Nogueira, no Parque Cocaia I, no Jd. Toca, e em outros bairros daqui. Algumas companheiras que recorreram às instituições de saúde em busca de informações, num primeiro momento receberam como resposta que a Prefeitura não iria fornecer vacinas, pois não se tratava de uma epidemia… 

Talvez não seja o caso de vacinação, mas o fato é o seguinte: se fosse o filho de um grande empresário ou do Prefeito que tivesse contraído a doença, seria um deus-nos-acuda, mas como são pessoas pobres, a coisa é bem diferente. 

É preciso ficarmos atentos e nos organizarmos para exigir respostas rápidas a situações como essa, que são bem localizadas, para que não ocorram mortes e sofrimentos que podem ser facilmente evitados.

Nada de prevenir, nem de remediar

E a novela se repete

Alguns meios de comunicação noticiaram hoje que a gestão Gilberto Kassab gastou este ano apenas 1/3 do orçamento destinado às emergências, como as que logo vão começar a se multiplicar , com a chegada das chuvas. 

Para que prevenir, ou mesmo remediar, se as catástrofes afetam sobretudo as populações pobres, e servem ainda para legitimar e facilitar os despejos? Enquanto não conseguirmos reagir a essas tragédias que nos afetam com a força que é necessária, entra ano e sai ano e as enchentes e os deslizamentos vão continuar ocorrendo.

Rebeliões na Fundação Casa/FEBEM

Justiça e vingança

Nesta semana, jovens detentos das Unidades da Fundação Casa/FEBEM de Guaianazes e de Franco da Rocha fizeram rebeliões.

Procurando na internet, as poucas notícias que se encontra não falam sobre o motivo das rebeliões, nem o que os detentos reivindicaram. A gente também não sabe, mas considerando as denúncias que com muito dificuldade os jovens conseguem fazer (ver aqui) – as torturas, os mal-tratos, as humilhações, a alimentação ruim, etc., etc. -, dá para ver que motivos não faltam.

A discussão não é nada simples, mas tem que ser encarada. Por que quem rouba um celular fica mofando na cadeia, mas quem desvia milhões das políticas de saúde, educação, transporte, etc., fica de boa? Por que os ricos não vão para a cadeia? Por que mesmo com o aumento absurdo do número de presos e presas, não diminui a tal criminalidade? Pra que servem as prisões?

Pensar sobre isso é urgente, porque estamos diante de um quadro sinistro: para dar conta do aumento da população carcerária seria preciso construir um presídio por mês no Estado de São Paulo, isso sem falar na superlotação. Além disso, o sistema prisional, que inclui a Fundação Casa/FEBEM, está virando mais uma fonte de lucro, e provavelmente ele logo vai ser totalmente privatizado, como aconteceu noutros países com conseqüências terríveis, como é o caso dos Estados Unidos.

É aquela velha história: quem semeia o vento, colhe tempestade. Maldade gera maldade, que gera mais maldade. Respostas a gente não tem, mas uma coisa é certa: enquanto a maioria das pessoas confundir justiça com vingança; enquanto achar que quem é encarcerado é um monstro, que merece sofrer das piores formas; enquanto continuar fechando os olhos para as causas e para as consequências desse aumento do encarceramento, a coisa só vai afundar.

E com isso a gente não quer passar um pano pra ninguém. Mas sim encarar a realidade: esse é um sistema em que ninguém é inocente, e que fortalece o que há de pior. Então é preciso mudá-lo!