Por que ninguém fala sobre a conjuntura nacional? – Parte I
Pois é, este é apenas mais um texto sobre conjuntura. E talvez na cabeça do leitor esteja latejando a mesmo pergunta que também nos atormentou: “por que tem gente que perde tempo produzindo um troço deste?”. E o que é ainda mais decisivo nesse momento, “para que gastar meu tempo lendo isso?”. A gente bem que queria, mas essas respostas não temos como dar…
De nossa parte, se temos alguma coisa que nos diferencia em relação aos que costumam escrever esse tipo de texto, não é nada muito sedutor: não somos intelectuais (nem profissionais, nem orgânicos, nem de nenhuma outra espécie), não somos dirigentes (nem políticos, nem industriais, nem nada que o valha), não somos formadores de opinião (não temos parte com os grandes meios de comunicação, nem somos publicitários, não somos artistas profissionais, e estamos longe de pertencer ao clube dos famosos). Somos apenas militantes de um pequenino movimento popular, recém-criado, que mal começou sua caminhada, e que ainda assim acumula mais tropeços do que passos, nas estreitas e sinuosas veredas da luta de classe. Enfim, somos ninguém, um punhado de ninguéns que volta e meia nos metemos a escrever…
Quando pensamos na atual conjuntura brasileira, são muitos os temas que nos vêm à mente. Afora os “escândalos” da vez, que não escandalizam mais ninguém, como os casos Palloci, ou a corrupção nos ministérios do Transporte, das Cidades, do Turismo, etc., e as conseqüentes avaliações sobre os rumos do governo Dilma e coisas que tais, muito se discute sobre os Jogos Olímpicos de 2016, a Copa do Mundo de 2014 – os tais “mega-eventos” -, ou sobre o andamento da economia brasileira, supostamente um “exemplo mundial” em função das taxas de crescimento do PIB que sustentou nos últimos poucos anos.
Bem que podíamos gastar essas linhas lembrando o quão desigual é esse crescimento, e algumas de suas conseqüências sociais e ambientais perversas. Ou então, falar sobre os interesses por detrás dos mega-eventos, os grandes grupos econômicos presenteados pelo Estado com rios de dinheiro para a realização de obras superfaturadas e em grande parte inúteis, a corrupção em torno delas, os violentos despejos em massa da população pobre que não deve atrapalhar a paisagem nem o movimento dos tratores, as tentativas de calar as vozes dissonantes, e assim por diante. Ou ainda, poderíamos falar sobre o caráter estrutural da corrupção, parte necessária do funcionamento do Estado e do sistema político-partidário. No entanto, escreveremos, ao contrário, sobre algo que talvez componha o pano de fundo desse quadro.
Indo sem mais demora ao ponto, sofremos hoje as conseqüências de uma importante derrota histórica, uma derrota, é evidente, cantada em verso e prosa, e muita pirotecnia, como um êxito sem precedentes, uma prova inconteste do “progresso nacional”, a inauguração de uma nova era, segundo os vencedores de ocasião. “De ocasião”, dizemos, porque desta vez, além dos inimigos de sempre, os que não têm cessado de vencer, estão aqueles que volta e meia são chamados a repartir o butim; trata-se dos burocratas, dos politiqueiros, daqueles “companheiros” convocados para gerir o capitalismo (em geral quando este se encontra ameaçado de alguma forma), e para conter os ânimos revolucionários, o que por vezes inclui realizar o massacre das experiências mais radicais e autênticas que os de “baixo” conseguem produzir.